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Crônica: A Valsa dos Dedos
created Friday June 27, 19:50 by DAVI SAMUEL VALUKAS LOPES
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Dona Alzira nunca foi íntima das máquinas. Seu mundo sempre foi feito de cadernos de receita, cartas escritas à mão e listas de compras rabiscadas com pressa. Mas naquele dia, ali estava ela, sentada diante de um computador moderno, encarando o teclado como quem encara um cofre cheio de segredos.
A professora, com paciência de anjo, explicava:
— Cada dedo tem sua casa, Dona Alzira. Veja só: o indicador da mão esquerda mora na tecla F, e o da direita, na J. Sentiu os risquinhos?
— Senti sim, professora. Parece até Braille de gente que enxerga — respondeu, rindo.
No começo, os dedos de Alzira eram como turistas perdidos em uma cidade estrangeira. Tropeçavam no caminho, batiam nas teclas erradas e faziam a palavra “café” virar “csd3”. Mas ela não desistia. Afinal, aprender algo novo era como plantar uma jabuticabeira: exigia paciência, carinho e um tanto de fé.
Com o tempo, os dedos começaram a se entender. Ganharam ritmo. Não era ainda uma sinfonia, mas talvez uma valsinha hesitante. E foi numa tarde de chuva mansa que Alzira percebeu: ela estava digitando sem olhar para o teclado!
— Olha só, professora! Meus dedos tão dançando sozinhos!
Naquela aula, ninguém falou de produtividade, nem de metas. Mas todos viram nos olhos de Alzira um brilho novo, como se tivesse redescoberto a juventude escondida na ponta dos dedos.
Desde então, ela escreve crônicas, e-mails para os netos e até poesias.
— Quem diria — ela costuma dizer — que com essas mãos que sovaram pão a vida inteira, eu ia agora sovar palavras?
E enquanto o cursor piscava na tela, esperando a próxima frase, Dona Alzira sorria. Porque agora, a dança dos dedos já fazia parte da sua rotina — uma valsa silenciosa, tecida de letras e conquistas.
A professora, com paciência de anjo, explicava:
— Cada dedo tem sua casa, Dona Alzira. Veja só: o indicador da mão esquerda mora na tecla F, e o da direita, na J. Sentiu os risquinhos?
— Senti sim, professora. Parece até Braille de gente que enxerga — respondeu, rindo.
No começo, os dedos de Alzira eram como turistas perdidos em uma cidade estrangeira. Tropeçavam no caminho, batiam nas teclas erradas e faziam a palavra “café” virar “csd3”. Mas ela não desistia. Afinal, aprender algo novo era como plantar uma jabuticabeira: exigia paciência, carinho e um tanto de fé.
Com o tempo, os dedos começaram a se entender. Ganharam ritmo. Não era ainda uma sinfonia, mas talvez uma valsinha hesitante. E foi numa tarde de chuva mansa que Alzira percebeu: ela estava digitando sem olhar para o teclado!
— Olha só, professora! Meus dedos tão dançando sozinhos!
Naquela aula, ninguém falou de produtividade, nem de metas. Mas todos viram nos olhos de Alzira um brilho novo, como se tivesse redescoberto a juventude escondida na ponta dos dedos.
Desde então, ela escreve crônicas, e-mails para os netos e até poesias.
— Quem diria — ela costuma dizer — que com essas mãos que sovaram pão a vida inteira, eu ia agora sovar palavras?
E enquanto o cursor piscava na tela, esperando a próxima frase, Dona Alzira sorria. Porque agora, a dança dos dedos já fazia parte da sua rotina — uma valsa silenciosa, tecida de letras e conquistas.
