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Os doze trabalhos de Hércules (Quarto Trabalho)

created Jun 23rd 2020, 17:54 by Florindo Novaes


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"A captura da corsa" (significando o desenvolvimento da intuição)
 
Hércules foi incumbido de capturar a corsa com galhada de ouro. Olhando ao redor de si, viu que, ao longe, erguia-se o Templo do Deus-Sol. No alto de uma colina próxima viu o esguio cervo, objeto de seu quarto trabalho. Foi então que Ártemis, que tem sua morada na lua, disse a Hércules, em tom de advertência: "A corça é minha, portanto não toque nela. Por longos anos eu a alimentei e cuidei dela. O cervo é meu e meu deve permanecer." Então, de um salto surgiu Diana, a caçadora dos céus, a filha do sol. Pés calçados de sandálias, em passos largos movendo-se em direção ao cervo, também ela reclamou a sua posse. "Não, Ártemis, belíssima donzela, não; o cervo é meu e meu deve permanecer", disse ela. "Até hoje ele era jovem demais, mas agora ele pode ser útil. A corça de galhada de ouro é minha, e minha permanecerá." Hércules observava e ouvia a disputa e se perguntava porque as donzelas lutavam pela posse da corça. Uma outra voz atingiu-lhe os ouvidos, uma voz de comando que dizia: "A corça não pertence a nenhuma das duas donzelas, oh Hércules, mas sim ao Deus cujo santuário podes ver sobre aquele monte distante. Salva-a, e leva-a para a segurança do santuário, e deixa-a lá. Coisa simples de se fazer, oh filho do homem, contudo, e reflete bem sobre minhas palavras; sendo tu um filho de Deus, deves ir à procura e agarrar a corça. Vai." De um salto Hércules lançou-se à caçada que o esperava. À distância, as donzelas em disputa tudo observavam. Ártemis, a bela, apoiada na lua e Diana, a bela caçadora dos bosques de Deus, seguiam os movimentos da corça e, quando surgia uma oportunidade, ambas iludiam Hércules, procurando anular seus esforços. Ele perseguiu a corça de um ponto a outro e cada uma delas sutilmente o enganava. E assim o fizeram muitas e muitas vezes. Durante um ano inteiro, o filho do homem que é um filho de Deus, seguiu a corça por toda a parte, captando rápidos vislumbres de sua forma, apenas para descobrir que ela desaparecera na segurança dos densos bosques. Correndo de uma colina para outra, de bosque em bosque, Hércules a perseguiu até que à margem de uma tranquila lagoa, estendida sobre a relva ainda não pisada, ele viu-a a dormir, exausta pela fuga. Com passos silenciosos, mão estendida e olhar firme, ele lançou uma flecha, ferindo-a no pé. Reunindo toda a vontade de que estava possuído, aproximou-se da corça, e ainda assim, ela não se moveu. Assim, ele foi até ela, tomou-a nos braços, e enlaçou-a junto ao seu coração, enquanto Ártemis e a bela Diana o observavam. "Terminou a busca", bradou ele. "Para a escuridão do norte fui levado e não encontrei a corça. Lutei para abrir meu caminho através de cerradas, profundas matas, mas não encontrei a corça; e por lúgubres planícies e áridas regiões e selvagens desertos eu persegui a corça, e ainda assim não a encontrei. A cada ponto alcançado, as donzelas desviavam meus passos, porém eu persisti, e agora a corça é minha! A corça é minha!" "Não, não é, oh Hércules", disse a voz do Senhor. "A corça não pertence a um filho do homem, mesmo embora sendo um filho de Deus. Carrega a corça para aquele distante santuário onde habitam os filhos de Deus e deixa-a com eles." "Por que tem que ser assim, oh Senhor? A corça é minha; minha, porque muito peregrinei à sua procura, e mais uma vez minha, porque a carrego junto ao coração." "E não és tu um filho de Deus, embora um filho do homem? E não é o santuário também a tua morada? E não compartilhas tu da vida de todos aqueles que habitam? Leva para o santuário de Deus a corça sagrada, e deixa-a lá, oh filho de Deus." Então, para o santuário sagrado de Micenas, levou Hércules a corça; carregou-a para o centro do lugar santo e a depositou. E ao deitá-la diante do Senhor, notou o ferimento em seu pé, a ferida causada pela flecha do arco que ele possuíra e usara. A corça era sua por direito de caça. A corça era sua por direito de habilidade e destreza de seu braço. "Portanto a corça é duplamente minha", disse ele. Porém, Ártemis, que se achava no pátio extremo do sacratíssimo lugar ouviu seu brado de vitória e disse: "Não, não é. A corça é minha, e sempre foi minha. Eu vi sua forma, refletida na água; eu ouvi seus passos pelos caminhos da terra; eu sei que a corça e minha, pois todas as formas são minhas." Do lugar sagrado, falou o Deus-Sol. "A corça é minha, não tua, oh Ártemis! Seu espírito está comigo por toda a eternidade, aqui no centro deste santuário sagrado. Tu, Ártemis, não podes entrar aqui, mas sabes que eu digo a verdade. Diana, a bela caçadora do Senhor, pode entrar por um momento e contar-te o que vê." A caçadora do Senhor entrou por um momento no santuário e viu a forma daquilo que fora a corça, jazendo diante do altar, parecendo morta. E com tristeza ela disse: "Mas se seu espírito permanece contigo, oh grande Apolo, nobre filho de Deus, então sabes que a corça está morta. A corça está morta pelo homem que é um filho do homem, embora seja um filho de Deus. Por que pode ele passar para dentro do santuário enquanto nós esperamos pela corça fora?" "Porque ele carregou a corça em seus braços, junto ao coração, e a corça encontra repouso no lugar sagrado, e também o homem. Todos os homens são meus. A corça é igualmente minha; não vossa, nem do homem, mas minha." Hércules então diz ao Mestre: "Cumpri a tarefa indicada. Foi simples, a não ser pelo longo tempo gasto e o cansaço da busca. Não dei ouvidos àqueles que faziam exigências, nem vacilei no Caminho. A corça está no lugar sagrado, junto ao coração de Deus, da mesma forma que, na hora da necessidade, está também junto ao meu coração." "Vai olhar de novo, oh Hércules, meu filho". E Hércules obedeceu. Ao longe se descortinavam os belos contornos da região e no horizonte distante erguia-se o templo do Senhor, o santuário do Deus-Sol. E numa colina próxima via-se uma esguia corça. "Realizei a prova, oh Mestre? A corça está de volta sobre a colina, onde eu a via anteriormente." E, o Mestre respondeu: "Muitas e muitas vezes precisam todos os filhos dos homens, que são os filhos de Deus, sair em busca da corça de cornos de ouro e carregá-la para o lugar sagrado; muitas e muitas vezes. O quarto trabalho está terminado, e devido à natureza da prova e devido à natureza da corça, a busca tem que ser frequente e não te esqueças disto: medita sobre a lição aprendida."
Este trabalho está associado ao signo de Câncer. Nos primeiros signos o aspirante prepara seu equipamento e aprende a utilizá-lo. Em Áries ele se apossa de sua mente e procura submetê-la, aprendendo o controle mental. Em Touro, "a mãe da iluminação", ele recebe o primeiro lampejo daquela luz espiritual cujo brilho aumentará progressivamente à medida que ele se aproxima de sua meta. Em Gêmeos, ele não se apercebe dos dois aspectos de sua natureza, como o aspecto imortal começa a crescer às custas do mortal. Agora, em Câncer, ele tem seu primeiro contato com aquele sentido mais universal que é o aspecto superior da consciência da massa. Equipado com uma mente controlada, com uma capacidade para registrar a iluminação, habilidade para estabelecer contato com seu aspecto imortal e reconhecer intuitivamente o reino do espírito, ele está pronto para o trabalho maior. Vimos que a corça era sagrada para Ártemis, como o instinto animal; para Diana, como o intelecto e para Apolo, como a intuição. Cada um deles via nela um aspecto, porém Hércules, o caçador, viu nela algo mais: a intuição espiritual, essa extensão da consciência, esse altamente desenvolvido sentido de viva percepção que aos discípulos a visão de novos campos de contato e lhe revela um novo mundo. Ele tem que aprender a usar o intelecto sob a influência de Diana, e por meio dele entrar em sintonia com o mundo das ideias e da pesquisa humanas. Tem que aprender a levar essa capacidade que possui para o templo do Senhor e lá, vê-la transmutada em intuição, e por meio da intuição tomar consciência das coisas do espírito e daquelas realidades espirituais que nem o instinto, nem o intelecto lhe podem revelar. O que frequentemente nos esquecemos é que, na verdade, não existem distinções nítidas entre os vários aspectos da natureza do homem, mas que todas são fases de uma mesma realidade. As palavras instinto, intelecto e intuição são apenas aspectos variados da consciência e da resposta ao meio e ao mundo no qual o homem se encontra.

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