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Pálido Ponto Azul - Capitulo I: Você está aqui (Parte 01)
created Jan 17th 2019, 17:26 by Residober
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A nave espacial estava muito distante de casa, além da órbita do planeta
mais afastado e bem acima do plano da eclíptica – que é uma superfície plana
imaginária que podemos visualizar como uma pista de corrida onde as órbitas dos
planetas ficam principalmente confinadas. A nave afastava-se aceleradamente do Sol a
60 mil quilômetros por hora. Mas, no início de fevereiro de 1990, foi alcançada por uma
mensagem urgente da Terra.
Obedientemente, redirecionou suas câmeras para os já distantes planetas.
Girando sua plataforma de varredura de um ponto a outro no espaço, tirou sessenta
fotografias e as armazenou sob forma digital em seu gravador. Depois, lentamente, em
março, abril e maio, radiotransmitiu os dados pra a Terra. Cada imagem era composta
de 640 mil elementos individuais (“pixels"), como os pontos em uma fotografia de
jornal transmitida por telégrafo ou em uma pintura pontilhista. A nave espacial estava a
6 bilhões de quilômetros da Terra, tão distante que cada pixel levava cinco horas e
meia, viajando à velocidade da luz, para chegar até nós. As fotos poderiam ter sido
enviadas mais cedo, mas os grandes radiotelescópios na Califórnia, na Espanha e na
Austrália, que recebem esses sussurros da orla do Sistema Solar, tinham
responsabilidades para com outras naves que transitam pelo mar espacial – entre elas,
Magellan, rumo a Vênus, e Galileo, em sua travessia tortuosa por Júpiter.
A Voyager 1 estava tão acima do plano da eclíptica porque, em 1981, passara
muito perto de Titã, a lua gigantesca de Saturno. Sua nave irmã, a Voyager 2, fora
enviada numa trajetória diferente dentro do plano da eclíptica e, por isso, pudera realizar
as célebres explorações de Urano e Netuno. Os dois robôs Voyager exploraram quatro
planetas e quase sessenta luas. São triunfos da engenharia humana e uma das glórias do
programa espacial norte-americano. Ainda estarão nos livros de história, quando muitos
outros dados sobre nossa época já tiveram caído no esquecimento.
O funcionamento das Voyager só estava garantido até o encontro com Saturno.
Achei que seria uma boa idéia, logo depois de Saturno, que elas lançassem um último
olha para casa. Eu sabia que, vista a partir de Saturno, a Terra pareceria demasiado
pequena para que a Voyager distinguisse algum detalhe. O nosso planeta seria apenas
um ponto de luz, um pixel solitário, mal distinguível dos muitos outros pontos de luz
que a Voyager podia divisar, planetas próximos e sóis distantes. Mas, justamente por
causa da obscuridade de nosso mundo assim revelado, valeria a pena ter a fotografia.
Os marinheiros fizeram um levantamento meticuloso das costas litorâneas dos
continentes. Os geógrafos traduziram essas descobertas em mapas e globos. Fotografias
de pequenos fragmentos da Terra foram tiradas, primeiro por balões e aviões, depois por
foguetes em vôos balísticos curtos e, finalmente, por naves espaciais em órbita –
gerando uma perspectiva similar à que obtemos quando posicionamos o globo ocular
uns três centímetros acima de uma grande esfera. Embora quase todo mundo aprenda
que a Terra é um globo ao qual estamos, de certa forma, presos pela gravidade, a
realidade de nossa circunstância só começou, de fato, a penetrar em nosso entendimento
com a famosa fotografia Apollo 17 na última viagem de seres humanos à Lua.
Ela se tornou uma espécie de ícone da nossa era. Ali está a Antártida, que
norte-americanos e europeus consideram a parte extrema da Terra, e toda a África
estirando-se acima dela: vemos a Etiópia, a Tanzânia e o Quênia, onde viveram os
primeiros seres humanos. No alto, à direita, estão a Arábia Saudita e o que os europeus
chamam Oriente Médio. Mal e mal espiando no topo, está o mar Mediterrâneo, ao redor
do qual surgiu uma parte tão grande de nossa civilização global. Podemos distinguir o
azul do oceano, o amarelo-ocre do Saara e do deserto árabe, o castanho-esverdeado da
floresta e dos prados.
Não há, entretanto, sinal de seres humanos na fotografia, nem de nosso
reelaboração da superfície da Terra, nem de nossas máquinas, nem de nós mesmos:
somos demasiado pequenos e nossa política é demasiado fraca para sermos vistos por
uma nave espacial entre a Terra e a Lua. Desse ponto de observação, nossa obsessão
com o nacionalismo não aparece em lugar algum. As fotografias Apollo da Terra inteira
transmitiram às multidões algo bem conhecidos dos astrônomos: na escala de mundos –
para não falar da escala de estrelas ou galáxias – os seres humanos são insignificantes,
uma película fina de vida sobre um bloco obscuro e solitário de rocha e metal.
Parecia-me que outra fotografia da Terra, tirada de um ponto de centenas de
milhares de vezes mais distantes, poderia ajudar no processo continuo de revelar-nos
nossa verdadeira circunstância e condição. Os cientistas e filósofos da Antigüidade
clássica tinham compreendido muito bem que a Terra era um simples ponto num vasto
cosmo circundante, mas ninguém jamais a vira nessa condição. Era a nossa primeira
oportunidade (e também a última em várias décadas).
Muitos membros do Projeto Voyage da NASA deram o seu apoio. Vista a
partir da orla do Sistema Solar, porém, a Terra fica muito perto do Sol, como uma
mariposa enfeitiçada ao voar ao redor de uma chama. Apontaríamos a câmera para tão
perto do Sol, a ponto de correr o risco de queimar o sistema vidicon da nave espacial?
Não seria melhor esperar ate que fossem obtidas todas as imagens cientificas de Urano e
Netuno, se a nave espacial chegasse a durar tanto tempo?
E assim, esperamos – o que foi bom – de 1981, em Saturno, a 1986, em Urano,
e a 1989, quando as duas naves espaciais já tinham passado das órbitas de Netuno e
Plutão. Por fim, chegou a hora. Havia, porém, algumas calibrações instrumentais a
serem feitas primeiro, e esperamos um pouco mais. Embora a nave espacial estivesse
nos lugares certos, os instrumentos ainda funcionassem maravilhosamente, e não
houvesse outras fotografias a serem tiradas, alguns membros do projeto se opuseram.
Não era ciência, diziam. Descobrimos, então, que, numa NASA em dificuldades
financeiras, os técnicos que projetavam e transmitiam os comandos de rádio para a
Voyager estavam para ser dispensados imediatamente ou transferidos para outras
tarefas. Se quiséssemos tirar a fotografia, tinha de ser naquele momento. No último
minuto – na verdade, no meio do encontro da Voyager 2 com Netuno – o então
administrador da NASA, contra-almirante Richard Truly, interveio e garantiu que as
imagens fossem obtidas. Os cientistas espaciais Candy Hansen, do Laboratório de
Propulsão a Jato da NASA (JPL), e Carolyn Porco, da Universidade do Arizona,
projetaram a seqüência de comandos e calcularam os tempos de exposição da câmera.
Assim, aqui estão elas – um mosaico de quadrados dispostos sobre os planetas
e uma coleção heterogênea de estrelas mais distantes ao fundo. Não só conseguimos
fotografar a Terra, mas também outros cinco dos nove planetas conhecidos que giram
em torno do Sol. No brilho deste, perdeu-se Mercúrio, o mais próximo. Marte e Plutão
eram demasiado distantes. Urano e Netuno são tão indistintos que, para registrar a sua
presença, foram necessárias longas exposições; conseqüentemente, devido ao
movimento da nave espacial, suas imagens não ficaram nítidas. Essa seria a imagem eu
os planetas ofereceriam a uma espaçonave alienígena que se aproximasse do Sistema
Solar depois de uma longa viagem interestelar.
A partir dessa distância, os planetas parecem apenas pontos de luz, nítidos ou
não – mesmo através do telescópio de alta resolução a bordo da Voyager. São como os
planetas vistos a olho nu da superfície da Terra; pontos luminosos, mais brilhantes que a
maioria das estrelas. Durante um período de meses, a Terra, como os outros planetas,
pareceria mover-se entre as estrelas. Olhando simplesmente para um desses pontos, não
se pode dizer como ele é, o que existe na sua superfície, qual foi seu passado e se, neste
momento em particular, alguém vive ali.
Devido ao reflexo da luz do Sol na nave espacial, a Terra parece estar pousada
num raio de luz, como se nosso pequeno mundo tivesse um significado especial. Mas é
apenas um acidente de geometria e óptica. O Sol emite sua radiação eqüitativamente em
todas as direções. Se a foto tivesse sido tirada um pouco mais cedo ou um pouco mais
tarde, nenhum raio de sol teria dado mais luz à Terra.
E por que essa cor cerúlea? O azul provém em parte do mar, em parte do céu.
Embora transparente, a água em copo absorve um pouco mais de luz vermelha que de
azul. Quando se tem dezenas de metros da substância ou mais, a luz vermelha é
totalmente absorvida e o que se reflete no espaço é sobretudo o azul. Da mesma forma,
o ar parece perfeitamente transparente num pequeno campo de visão. Ainda assim –
algo que Leonardo da Vinci era mestre em pintar – quando mais distante o objeto, mas
azul ele parece ser. Por quê? O ar dispersa muito melhora a luz azul do que a vermelha.
O matiz azulado, portando, provém da atmosfera espessa, mas transparente, da Terra e
de seus oceanos profundos e líquidos. E o branco? Em um dia normal, a Terra tem
quase metade de sua superfície coberta por nuvens brancas de água.
Nós podemos explicar o azul-pálido desse pequeno mundo porque
conhecemos muito bem. Se um cientista extraterrestre, recém chegado às imediações do
nosso Sistema Solar, poderia fidedignamente inferir oceanos, nuvens e uma atmosfera
espessa, já não é tão certo. Netuno, por exemplo, é azul, mas por razões inteiramente
diferentes. Desse ponto de observação, a Terra talvez não apresentasse nenhum
interesse especial.
mais afastado e bem acima do plano da eclíptica – que é uma superfície plana
imaginária que podemos visualizar como uma pista de corrida onde as órbitas dos
planetas ficam principalmente confinadas. A nave afastava-se aceleradamente do Sol a
60 mil quilômetros por hora. Mas, no início de fevereiro de 1990, foi alcançada por uma
mensagem urgente da Terra.
Obedientemente, redirecionou suas câmeras para os já distantes planetas.
Girando sua plataforma de varredura de um ponto a outro no espaço, tirou sessenta
fotografias e as armazenou sob forma digital em seu gravador. Depois, lentamente, em
março, abril e maio, radiotransmitiu os dados pra a Terra. Cada imagem era composta
de 640 mil elementos individuais (“pixels"), como os pontos em uma fotografia de
jornal transmitida por telégrafo ou em uma pintura pontilhista. A nave espacial estava a
6 bilhões de quilômetros da Terra, tão distante que cada pixel levava cinco horas e
meia, viajando à velocidade da luz, para chegar até nós. As fotos poderiam ter sido
enviadas mais cedo, mas os grandes radiotelescópios na Califórnia, na Espanha e na
Austrália, que recebem esses sussurros da orla do Sistema Solar, tinham
responsabilidades para com outras naves que transitam pelo mar espacial – entre elas,
Magellan, rumo a Vênus, e Galileo, em sua travessia tortuosa por Júpiter.
A Voyager 1 estava tão acima do plano da eclíptica porque, em 1981, passara
muito perto de Titã, a lua gigantesca de Saturno. Sua nave irmã, a Voyager 2, fora
enviada numa trajetória diferente dentro do plano da eclíptica e, por isso, pudera realizar
as célebres explorações de Urano e Netuno. Os dois robôs Voyager exploraram quatro
planetas e quase sessenta luas. São triunfos da engenharia humana e uma das glórias do
programa espacial norte-americano. Ainda estarão nos livros de história, quando muitos
outros dados sobre nossa época já tiveram caído no esquecimento.
O funcionamento das Voyager só estava garantido até o encontro com Saturno.
Achei que seria uma boa idéia, logo depois de Saturno, que elas lançassem um último
olha para casa. Eu sabia que, vista a partir de Saturno, a Terra pareceria demasiado
pequena para que a Voyager distinguisse algum detalhe. O nosso planeta seria apenas
um ponto de luz, um pixel solitário, mal distinguível dos muitos outros pontos de luz
que a Voyager podia divisar, planetas próximos e sóis distantes. Mas, justamente por
causa da obscuridade de nosso mundo assim revelado, valeria a pena ter a fotografia.
Os marinheiros fizeram um levantamento meticuloso das costas litorâneas dos
continentes. Os geógrafos traduziram essas descobertas em mapas e globos. Fotografias
de pequenos fragmentos da Terra foram tiradas, primeiro por balões e aviões, depois por
foguetes em vôos balísticos curtos e, finalmente, por naves espaciais em órbita –
gerando uma perspectiva similar à que obtemos quando posicionamos o globo ocular
uns três centímetros acima de uma grande esfera. Embora quase todo mundo aprenda
que a Terra é um globo ao qual estamos, de certa forma, presos pela gravidade, a
realidade de nossa circunstância só começou, de fato, a penetrar em nosso entendimento
com a famosa fotografia Apollo 17 na última viagem de seres humanos à Lua.
Ela se tornou uma espécie de ícone da nossa era. Ali está a Antártida, que
norte-americanos e europeus consideram a parte extrema da Terra, e toda a África
estirando-se acima dela: vemos a Etiópia, a Tanzânia e o Quênia, onde viveram os
primeiros seres humanos. No alto, à direita, estão a Arábia Saudita e o que os europeus
chamam Oriente Médio. Mal e mal espiando no topo, está o mar Mediterrâneo, ao redor
do qual surgiu uma parte tão grande de nossa civilização global. Podemos distinguir o
azul do oceano, o amarelo-ocre do Saara e do deserto árabe, o castanho-esverdeado da
floresta e dos prados.
Não há, entretanto, sinal de seres humanos na fotografia, nem de nosso
reelaboração da superfície da Terra, nem de nossas máquinas, nem de nós mesmos:
somos demasiado pequenos e nossa política é demasiado fraca para sermos vistos por
uma nave espacial entre a Terra e a Lua. Desse ponto de observação, nossa obsessão
com o nacionalismo não aparece em lugar algum. As fotografias Apollo da Terra inteira
transmitiram às multidões algo bem conhecidos dos astrônomos: na escala de mundos –
para não falar da escala de estrelas ou galáxias – os seres humanos são insignificantes,
uma película fina de vida sobre um bloco obscuro e solitário de rocha e metal.
Parecia-me que outra fotografia da Terra, tirada de um ponto de centenas de
milhares de vezes mais distantes, poderia ajudar no processo continuo de revelar-nos
nossa verdadeira circunstância e condição. Os cientistas e filósofos da Antigüidade
clássica tinham compreendido muito bem que a Terra era um simples ponto num vasto
cosmo circundante, mas ninguém jamais a vira nessa condição. Era a nossa primeira
oportunidade (e também a última em várias décadas).
Muitos membros do Projeto Voyage da NASA deram o seu apoio. Vista a
partir da orla do Sistema Solar, porém, a Terra fica muito perto do Sol, como uma
mariposa enfeitiçada ao voar ao redor de uma chama. Apontaríamos a câmera para tão
perto do Sol, a ponto de correr o risco de queimar o sistema vidicon da nave espacial?
Não seria melhor esperar ate que fossem obtidas todas as imagens cientificas de Urano e
Netuno, se a nave espacial chegasse a durar tanto tempo?
E assim, esperamos – o que foi bom – de 1981, em Saturno, a 1986, em Urano,
e a 1989, quando as duas naves espaciais já tinham passado das órbitas de Netuno e
Plutão. Por fim, chegou a hora. Havia, porém, algumas calibrações instrumentais a
serem feitas primeiro, e esperamos um pouco mais. Embora a nave espacial estivesse
nos lugares certos, os instrumentos ainda funcionassem maravilhosamente, e não
houvesse outras fotografias a serem tiradas, alguns membros do projeto se opuseram.
Não era ciência, diziam. Descobrimos, então, que, numa NASA em dificuldades
financeiras, os técnicos que projetavam e transmitiam os comandos de rádio para a
Voyager estavam para ser dispensados imediatamente ou transferidos para outras
tarefas. Se quiséssemos tirar a fotografia, tinha de ser naquele momento. No último
minuto – na verdade, no meio do encontro da Voyager 2 com Netuno – o então
administrador da NASA, contra-almirante Richard Truly, interveio e garantiu que as
imagens fossem obtidas. Os cientistas espaciais Candy Hansen, do Laboratório de
Propulsão a Jato da NASA (JPL), e Carolyn Porco, da Universidade do Arizona,
projetaram a seqüência de comandos e calcularam os tempos de exposição da câmera.
Assim, aqui estão elas – um mosaico de quadrados dispostos sobre os planetas
e uma coleção heterogênea de estrelas mais distantes ao fundo. Não só conseguimos
fotografar a Terra, mas também outros cinco dos nove planetas conhecidos que giram
em torno do Sol. No brilho deste, perdeu-se Mercúrio, o mais próximo. Marte e Plutão
eram demasiado distantes. Urano e Netuno são tão indistintos que, para registrar a sua
presença, foram necessárias longas exposições; conseqüentemente, devido ao
movimento da nave espacial, suas imagens não ficaram nítidas. Essa seria a imagem eu
os planetas ofereceriam a uma espaçonave alienígena que se aproximasse do Sistema
Solar depois de uma longa viagem interestelar.
A partir dessa distância, os planetas parecem apenas pontos de luz, nítidos ou
não – mesmo através do telescópio de alta resolução a bordo da Voyager. São como os
planetas vistos a olho nu da superfície da Terra; pontos luminosos, mais brilhantes que a
maioria das estrelas. Durante um período de meses, a Terra, como os outros planetas,
pareceria mover-se entre as estrelas. Olhando simplesmente para um desses pontos, não
se pode dizer como ele é, o que existe na sua superfície, qual foi seu passado e se, neste
momento em particular, alguém vive ali.
Devido ao reflexo da luz do Sol na nave espacial, a Terra parece estar pousada
num raio de luz, como se nosso pequeno mundo tivesse um significado especial. Mas é
apenas um acidente de geometria e óptica. O Sol emite sua radiação eqüitativamente em
todas as direções. Se a foto tivesse sido tirada um pouco mais cedo ou um pouco mais
tarde, nenhum raio de sol teria dado mais luz à Terra.
E por que essa cor cerúlea? O azul provém em parte do mar, em parte do céu.
Embora transparente, a água em copo absorve um pouco mais de luz vermelha que de
azul. Quando se tem dezenas de metros da substância ou mais, a luz vermelha é
totalmente absorvida e o que se reflete no espaço é sobretudo o azul. Da mesma forma,
o ar parece perfeitamente transparente num pequeno campo de visão. Ainda assim –
algo que Leonardo da Vinci era mestre em pintar – quando mais distante o objeto, mas
azul ele parece ser. Por quê? O ar dispersa muito melhora a luz azul do que a vermelha.
O matiz azulado, portando, provém da atmosfera espessa, mas transparente, da Terra e
de seus oceanos profundos e líquidos. E o branco? Em um dia normal, a Terra tem
quase metade de sua superfície coberta por nuvens brancas de água.
Nós podemos explicar o azul-pálido desse pequeno mundo porque
conhecemos muito bem. Se um cientista extraterrestre, recém chegado às imediações do
nosso Sistema Solar, poderia fidedignamente inferir oceanos, nuvens e uma atmosfera
espessa, já não é tão certo. Netuno, por exemplo, é azul, mas por razões inteiramente
diferentes. Desse ponto de observação, a Terra talvez não apresentasse nenhum
interesse especial.
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